Com "pesar" da Justiça do Trabalho e polêmica no tribunal, nova greve do transporte coletivo se aproxima

Sindimoc anunciou greve para a próxima segunda-feira, com 30% da frota em todos os horários. Com proposta do MP-PR aceita por todas as partes, empresas voltaram atrás e inseriram nova cláusula que impediu acordo com trabalhadores. Se pagamento atrasar novamente, empresas arcarão com multa de R$ 1 milhão
 
Após impasse no TRT-PR, Sindicato dos Motoristas e Cobradores de Curitiba e Região Metropolitana (SINDIMOC) informou que greve no transporte coletivo de Curitiba e Região se iniciará na próxima segunda-feira (9), com frota de 30% em todos os horários. Em audiência desta quarta-feira (5), que teve aproximadamente seis horas de duração, após Sindimoc, Setransp, Urbs e Comec aceitarem proposta formulada pelo Ministério Público do Trabalho e chancelada pela desembargadora Ana Carolina Zaina, garantindo reajuste salarial de 9% e vale alimentação no valor de R$ 415,00 para os trabalhadores do transporte coletivo, Setransp inseriu cláusula de última hora na negociação, reduzindo o anuênio existente há mais de 25 anos na categoria, benefício que outorga aumento de 2% no salário dos trabalhadores a cada ano de serviço. A desembargadora lamentou "a postura por parte do SETRANSP" e destacou que, "durante as tratativas conciliatórias, esclarecera ao SETRANSP que a questão do anuênio não estava na pauta de reivindicações", conforme registrado em ata da audiência. O MP-PR anuiu com as colocações da desembargadora e registrou que "quem mais perde é a própria sociedade".
 
 
A audiência se encerrou com polêmica, após o advogado do Sindimoc, Dr. Elias Mattar Assad, dirigir-se às lideranças sindicais presentes afirmando que acreditava ser essa "uma manobra para que a categoria perdesse a cabeça", mas que deveriam se manter na lei, já que não são bandidos, pois acreditava que os "bandidos estão do lado de lá" (da mesa de negociação). Sob protestos e exigências por parte de Setransp, Urbs e Comec, que solicitavam a permanência de 70% da frota em horário de pico, a desembargadora apenas declarou que garantirá o "integral" direito de greve caso os direitos dos trabalhadores sejam vilipendiados. A desembargadora também reafirmou a multa no valor de R$ 1 milhão para o sindicato das empresas, caso novos atrasos com pagamentos de salários ou adiantamentos salariais venha a ocorrer.
 
 
Na última quarta-feira (4), motoristas e cobradores rejeitaram por unanimidade a proposta feita pelo patronal, após determinação da Justiça, que oferecia como reajuste salarial apenas o equivalente ao INPC do período (7,13%).  Durante mais de um mês, uma dezena de reuniões foi feita sem que Setransp fizesse proposta alguma, sob pretexto das dificuldades decorrentes da desintegração do transporte coletiva da região metropolitana.
 
 
Apropriação indébita de capital por parte das empresas
 
O Sindimoc também informou, no Tribunal, que entrará com notícias denúncia contra o Setransp, por apropriação indébita de capital. As empresas do transporte coletivo de Curitiba e Região devem aproximadamente R$ 2 milhões ao Sindimoc. A maior parte do montante é referente à assistência médica dos trabalhadores, serviço que há um mês parou de funcionar e deixou 12 mil trabalhadores sem direito a exames e consultas médicas.
 
 
Lucros às escondidas
 
Nesta semana, a indignação com relação às empresas do transporte coletivo de Curitiba e Região aumentou com as notícias de que empresas do sistema utilizam outras empresas fantasma, da mesma família, para encobrir lucros. Balancetes demonstram movimentação de R$ 55,6 milhões com empresas menoras, ligadas às permissonárias. Os frequentes atrasos nos pagamentos dos trabalhadores que ocasionaram a última greve, segundo as empresas, se deveram a um déficit insustentável gerado pelo atraso dos repasses do Governo Estadual.
 
Em 2013, a CPI da Urbs investigou os lucros das empresas do sistema. Na ocasião, planilhas com gastos superfaturados foram identificadas. Gastos com salários que variam de R$ 40 mil a R$ 80 mil, para até três diretores por empresa, também estão incluídos nos "gastos com pessoal".