Trânsito: Sufoco sobre quatro rodas

 

 
 
 

Publicado em 21/04/2013 | RAFAEL WALTRICK, COM ANDREA TORRENTE, BERENICE DOS SANTOS, LAURA BORDIN, LUCAS MARINS E THOMAS RIEGER, ESPECIAL PARA A GAZETA DO POVO


Apesar de viver em uma cidade que ganhou fama internacional pela inovação no transporte coletivo, o curitibano parece ter uma adoração pelo automóvel. Hoje, há 1,3 milhão de veículos emplacados na cidade – destes, 915 mil são utilitários de quatro rodas, usados para ir ao mercado, ao trabalho, à escola dos filhos. Porém, para usar o carro na capital não basta ter carteira de habilitação ou dinheiro no bolso para encher o tanque. É preciso – e como – paciência.

Durante a última semana, a Gazeta do Povo foi às ruas para testemunhar os cinco principais obstáculos enfrentados por motoristas em Curitiba. Não bastasse a frota gigantesca, os repórteres comprovaram que problemas pontuais, como obras nas pistas, semáforos dessincronizados e vias com sinalização confusa têm prejudicado a fluidez do trânsito.

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INFOGRÁFICO: A Gazeta percorreu quatros trajetos em diferentes regiões e em horários distintos

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Mesmo trechos relativamente pequenos, como o percurso de seis quilômetros da Gazeta do Povo até a sede do Detran, no bairro Capão da Imbuia, pode levar quase meia hora em um horário de pico – o dobro do tempo gasto em um período menos turbulento do dia.

Prova de que, na capital, engarrafamentos têm data e hora marcada para ocorrer. Levantamento do site MapLink mostra que, na última quinta-feira, dia 18 de abril, o trânsito de Curitiba registrou 138 quilômetros de lentidão por volta das 18 horas. Nas sextas-feiras, o tormento costuma ser maior: em abril, o pico de filas registrado nesse dia da semana, em média, foi de 173 quilômetros de carros a ritmo lento. Mais uma vez, sempre às 18 horas, de longe o horário mais temido por motoristas.

1. UMA OBRA NO CAMINHO

Pelo menos 13 obras estão em andamento no trânsito de Curitiba – o que demanda desvios pelo caminho ou interrupção de uma das pistas. O importante, de acordo com a Coordenadoria de Obras de Curitiba (COC), braço da Secretaria de Trânsito (Setran), é ter calma. “Os motoristas nem sempre são pacientes, mas deveriam. Afinal, as obras ocorrem justamente para melhorar o trânsito”, comenta a coordenadora do órgão, Rosana Dalledone. Ela garante que os bloqueios e desvios são feitos pensando sempre em minimizar os efeitos das obras. “É importante evitar a região onde as obras estão acontecendo e usar o transporte coletivo”, recomenda.

2. OU VERDE, OU VERMELHO

A bronca dos motoristas da capital com os semáforos é antiga. Há quem diga que as filas se formam justamente porque os sinais são dessincronizados – o que torna a passagem por uma avenida longa um teste de paciência. O Departamento de Engenharia da Setran, porém, afirma que os equipamentos agem em sintonia, conforme a área da cidade e o horário – no Centro, por exemplo, o ciclo (o tempo entre o sinal verde, amarelo e vermelho) dura 90 segundos nos momentos de pico. “Muitos motoristas estão trafegando por vias transversais, que não são nossa prioridade. Aí eles acreditam que o sistema tem problemas”, diz o engenheiro de tráfego Rodrigo Alves.

3. PERDIDOS NO TRÂNSITO

Quem passa todo dia de carro pelo mesmo local acaba se acostumando às entradas, retornos e trocas de pista. Mas, quando algum motorista percorre um trajeto até então desconhecido, os conflitos parecem inevitáveis. Ainda mais em locais com sinalização confusa, como a Linha Verde. “Os motoristas se atrapalham muito com as faixas, muitos ficam na errada. Falta sinalização” afirma Daniel José Procailo, 27 anos, técnico de informática, acostumado a buzinar para outros carros na Avenida Victor Ferreira do Amaral, sobre o viaduto da BR-116. Uma opção é cobrar do poder público o reforço da sinalização, por meio do site www.central156.org.br.

4. UMA LUTA DESIGUAL

A convivência entre motoristas, pedestres e ciclistas tende a ser difícil em vários momentos. “Há uma falta de educação generalizada. Pedestres e motoristas não sabem quais são seus direitos e obrigações”, reflete o integrante do Núcleo de Psicologia do Trânsito da UFPR, José Carlos Belotto. Travessias em semáforos, por exemplo, costumam causar atritos. “Tenho que disputar espaço com carros e ainda por cima desviar de pedestres que não atravessam na faixa”, reclama o motofretista Paulo Hilton, 23 anos. Por outro lado, há locais que exigem disposição de atleta para quem está a pé – caso do cruzamento da Avenida Visconde de Guarapuava com a Rua Mariano Torres, onde o semáforo fica aberto para o pedestre apenas por 10 segundos.


5. MUITO CARRO, POUCA RUA

O trânsito de Curitiba também tende a engarrafar nos horários de pico devido a um cenário já bem conhecido: na última década, a frota de veículos da capital cresceu num ritmo seis vezes maior do que a evolução da população. O horário de entrada e saída das escolas, junto da abertura do comércio, tende a concentrar muitos veículos nos mesmos locais. Não ajuda o fato de que muitos curitibanos têm certa aversão ao transporte coletivo. “Eu preferiria passar horas em congestionamentos para não pegar ônibus. Estou prestes a comprar meu carro”, diz o frentista Fábio Fernandes, morador do Santa Cândida.

Os jornalistas que produziram essa reportagem participam do programa Talento Jornalismo 2013.

Fonte da Notícia: Gazeta do Povo