Reajuste da categoria é o maior em 17 anos - Diz Gazeta do Povo

Reajuste da categoria é o maior em 17 anos

Funcionários do transporte coletivo vão receber 10,5% de aumento, R$ 200 de vale-refeição e R$ 300 de abono a ser pago em junho
 
 
Publicado em 16/02/2012 | Chico Marés

O acordo salarial que pôs fim à greve no transporte coletivo de Curitiba foi costurado pelo Ministério Público do Trabalho (MPT), que sugeriu o aumento de 10,5% nos vencimentos das categorias, alta do vale-refeição de R$ 105 para R$ 200 e um abono de R$ 300 a ser pago em junho de 2012.
Com essa proposta, o piso salarial dos motoristas subiu de R$ 1.359 para R$ 1.501. Já os cobradores, que ganhavam no mínimo R$ 770, passam a ter um piso de R$ 851. Segundo o economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sociais (Dieese) Cid Cordeiro, se considerado também o vale-refeição, o crescimento total nos vencimentos chega a 19,65%. Entretanto, é válido lembrar que esse benefício (que cresceu 90%) não é contabilizado para a aposentadoria e nem influi no 13.º salário, por exemplo.
Entrevista
Luciano Ducci, prefeito de Curitiba
Marcela Campos
O sindicato dos motoristas e o das empresas de ônibus entraram em acordo ontem por um reajuste salarial de 10,5% e aumento de R$ 95 no vale-alimentação. A pergunta que fica é se as medidas devem interferir no preço da passagem. A resposta do prefeito de Curitiba, Luciano Ducci, é não. “O reajuste dá ganho significativo e justo aos trabalhadores. Nossa equipe técnica vai fazer estudos sobre o impacto desse aumento na tarifa. Por enquanto não há previsão de reajuste”, afirmou Ducci em entrevista. O prefeitou explicou que quem reajusta o valor da tarifa é a Urbs e que já estão em estudo algumas opções para que o impacto seja o menor possível. Confira alguns trechos da entrevista.
Quais seriam essas opções para não impactar no preço da tarifa?
Estamos preservando as possíveis estratégias, porque ainda não há conclusões nos estudos.
As autoridades locais estudam a possibilidade de oferecer algum tipo de subsídio ao sistema de transporte coletivo de Curitiba?
Há discussões antigas sobre isso, como a possibilidade de isenção do ICMS no diesel dos ônibus, que pode ser feita de forma direta ou indireta. Prefiro, com calma e tranquilidade, fazer o encaminhamento adequado, para que o aumento não traga prejuízos à população.
Atualmente já existe algum tipo de subsídio?
Hoje temos uma tarifa técnica que está acima de R$ 2,50. Ela é de R$ 2,56. São recursos da prefeitura, da Urbs, que pagam essa diferença no transporte. Temos tempo pela frente para discutir o assunto com a equipe técnica, não estou apressado para fazer essa definição. Temos uma certeza: será mantida a tarifa de R$ 1 aos domingos.
Sindicato quer revogação das multas
O Sindimoc e o Tribunal Regional do Trabalho (TRT) se reúnem hoje para negociar a multa acumulada de R$ 200 mil aplicada ao sindicato. O valor foi imposto pela Justiça após o descumprimento da determinação de manter parte da frota circulando durante as 37 horas de greve. Embora a tendência seja de que a multa acabe reduzida (ou até mesmo extinta), o caso alimenta discussões legais sobre as ações dos trabalhadores durante o piquete.
A proposta foi apresentada durante uma sessão de negociação no Tribunal Regional do Trabalho (TRT), por volta do meio-dia, e mostrada pelo Sindicato dos Motoristas e Cobradores de Curi­­tiba e Região (Sindimoc) para a categoria às 14h30, em assembleia. Inicialmente, o clima era de insatisfação, já que a proposta era inferior aos 15% pedidos anteriormente. Entretanto, a direção do Sindimoc conseguiu convencer os cerca de 3 mil grevistas presentes de que, caso a proposta fosse rejeitada, o caso iria para dissídio e o resultado poderia ser pior. Depois de cerca de uma hora, a categoria aceitou os 10,5%.
Foi o maior aumento real dos motoristas e cobradores desde 1995, segundo dados do Dieese. O INPC do período foi de 5,6%, ou seja, os ganhos reais da categoria foram de quase 5%. Em porcentagem absoluta, a categoria chegou a receber aumentos maiores na década passada. Para o presidente do Sindimoc, Anderson Teixeira, o resultado da greve foi positivo para a categoria. “Mos­tramos que a nossa categoria precisava ter suas reivindicações atendidas. Conseguimos uma vitória”, afirma.
O aumento real de quase 5% foi comemorado pela categoria. “A gente está satisfeito. Trabalho no transporte coletivo há 18 anos e nunca a gente conseguiu um valor tão bom quanto esse. Esperamos que daqui para frente tenhamos mais conquistas”, afirma o motorista José Teixeira.
Punições
Apesar do acordo entre o sindicato e as empresas, os motoristas e cobradores ainda estão sujeitos a punições. Na audiência de conciliação, as partes decidiram que os grevistas não terão o ponto cortado, mas deverão compensar as horas não trabalhadas. Existem ainda relatos de ônibus depredados durante o piquete. Caso o dano ao patrimônio das empresas seja comprovado, as concessionárias têm o direito de requerer indenização ao Sindimoc. Há ainda o problema das multas impostas pela Justiça trabalhista e pela cível pelo desrespeito à decisão de manter um porcentual mínimo de ônibus mnas ruas para não prejudicar a população.
Impacto
Estado pode subsidiar despesas
O aumento de 10,5% no salário dos motoristas e cobradores deve ter um impacto grande nas contas da Urbs. Segundo dados da empresa, 43% dos custos do transporte coletivo de Curitiba são referentes ao custo da mão de obra. Esse aumento deve impactar na tarifa técnica, que serve como base para os repasses da Urbs às empresas operadoras do sistema. Hoje, ela é de R$ 2,56.
Entretanto, o presidente da Urbs, Marcos Isfer, diz que isso não significa, necessariamente, que a passagem deve ficar mais cara. “Temos vários estudos que estão sendo realizados, estamos em busca de boas soluções, mas a gente sempre vai ter a preocupação de não impactar na população”, afirma.
Isfer afirma que essa solução passa por uma adequação tarifária entre o custo das linhas que operam na região metropolitana e das que rodam somente em Curitiba, e não descarta a possibilidade de o governo do estado arcar com parte da diferença. “Se o custo do transporte metropolitano estiver acima do urbano, imaginamos que pode haver um equilíbrio através da participação do governo do estado”, diz. Entretanto, segundo Isfer, essa solução ainda está em fase de estudos e depende, também, de negociações entre a prefeitura e o governo.
Na terça-feira, o diretor de transportes da Urbs, Antônio Carlos Pereira de Araújo, comunicou que, se a proposta de aumento de 8% fosse aceita, a diferença entre o que a Urbs arrecada e repassa anualmente às empresas concessionárias seria de cerca de R$ 55 milhões, considerando a manutenção do preço das passagens em R$ 2,50. Como o aumento foi de 10,5%, essa diferença é maior. Entretanto, Isfer diz que esses cálculos ainda não foram finalizados e não é possível saber o valor exato.