Transporte coletivo de Curitiba e RMC teve 32 mortes por Covid desde o início da pandemia

Levantamento do Sindicato das Empresas de Ônibus de Curitiba (Setransp), órgão patronal, registra a morte de 21 trabalhadores do setor desde o início da pandemia: sete motoristas, nove cobradores, três porteiros, um mecânico e um manobrista.

Já o Sindicato dos Motoristas e Cobradores de Curitiba e Região Metropolitana (Sindimoc) aponta que foram 32 mortes de trabalhadores na capital e cidades vizinhas. Dezoito só nos últimos 15 dias. Apenas entre segunda (22) e esta terça-feira (23), o Sindimoc registrou quatro mortes, além de seis na semana passada e oito na anterior.

Em nota, o Setransp afirma que não é possível identificar se a contaminação dessas 21 vítimas da Covid-19 ocorreu no transporte coletivo ou fora dele. Já o Sindimoc acredita que possa haver até mais mortes na categoria. “A gente tem uma certa dificuldade em levantar com exatidão todos os números da Covid-19 desde o ano passado, porque nem todos os trabalhadores procuram o sindicato quando adoecem. Mas temos feito um esforço para acompanhar de perto a situação, afinal, o número de mortes nos últimos 15 dias assusta”, enfatiza o presidente do Sindimoc, Anderson Teixeira.

Para os motoristas e cobradores, a sensação já é de preocupação, pois as aglomerações facilitam a transmissão do vírus. Situação que se acentua com a notícia de cada companheiro de trabalho que adoece e, pior, falece. “A gente tem recebido notícias da morte de colegas com muita frequência nos grupos. Agora mesmo a minha cobradora está afastada com Covid-19 e estou muito preocupado com ela”, afirma Acir Pires, motorista da linha Caiuá-Capão Raso, em Curitiba.

Acir já foi afastado duas vezes por suspeita da Covid-19. A primeira foi em agosto, no primeiro pico da doença. Ele procurou o sistema público de saúde e foi afastado por 14 dias pelos sintomas que apresentava, até então leves, os mesmos da gripe. Dias depois, ele fez o teste rápido que atestou positivo para a presença de anticorpos do coronavírus - nessa oportunidade, ele não fez o exame RT-PCR, mais preciso na detecção da infecção.

No dia 6 de janeiro, o motorista foi diagnosticado de fato com a doença pelo teste RT-PCR. “Essa vez foi a pior, fiquei muito mal, cansado, com dor de barriga e estou um pouco surdo até agora, tendo que fazer acompanhamento com um médico otorrino”, relata o motorista, que já está trabalhando novamente.

Por conta da suspeita de ter sido reinfectado pelo coronavírus, Acir participa como voluntário em uma pesquisa científica. Nesta semana, a Secretaria Estadual de Saúde (Sesa) detectou o primeiro caso confirmado de reinfecção da Covid-19 no Paraná, um mulher de 39 anos.

Com medo de uma nova infecção, Acir trabalha agora com cuidados redobrados. “A gente tem que estar brigando com alguns passageiros, porque entram no ônibus, abaixam a máscara e começam a comer alguma coisa. Essa semana ainda tive que parar o ônibus e pedir pra um passageiro colocar a máscara”, conta. “O que eu faço atualmente é não parar nos pontos para pegar mais passageiros quando atingimos o limite de lotação. Sei que desagrada muita gente, mas é o que faço”, diz.

Classe pede prioridade na vacinação

Entre os argumentos usados para justificar a decisão cautelar que pedia a suspensão do transporte coletivo em Curitiba, derrubada pela Justiça, o presidente do Tribunal de Contas do Paraná (TCE-PR), Fabio Camargo, citou o levantamento do Sindimoc dos casos de Covid-19 de 100 mortes entre os trabalhadores do transporte público. Segundo a diretoria do sindicato, no entanto, a maior parte dos casos, cerca de 70, envolve membros que já estavam afastados do trabalho ou aposentados no início da pandemia.

Embora o Sindimoc admita que não têm um controle exato dos casos, 619 trabalhadores procuraram orientação da entidade por estarem com suspeita da Covid-19. Por conta da alta nos registros recentes, a entidade afirma que procurou os órgãos públicos, pedindo a suspensão do transporte de passageiros que não sejam de serviços essenciais.

Atualmente, o Ministério Público do Trabalho (MPT) atua como intermediário das discussões entre sindicato, empresas e prefeitura. Uma audiência de conciliação deve ser marcada ainda nesta semana para discutir as condições dos trabalhadores.

Segundo a diretoria do sindicato dos trabalhadores, o principal pedido é de que a classe seja vacinada ou que o transporte público, em momentos de bandeira vermelha, seja utilizado somente por trabalhadores dos serviços essenciais.

Vacina para motoristas e cobradores

Já a Setransp afirma que a vacinação já é um boa notícia para o setor. Mas enfatiza que a pandemia ainda não acabou. Pelo contário, vive agora o pior momento com o colapso dos hospitais. "Vamos continuar com as campanhas de sanitização e pedimos que todos façam a sua parte: usem máscara, estejam sempre com álcool em gel, pratiquem o distanciamento social e deem prioridade a horários fora do pico", reforça Maurício Gulin, presidente do sindicato patronal, que afirma fornecer equipamentos de proteção a seus funcionários.

De acordo com o Plano Nacional de Imunização do Ministério (PNI) do Ministério da Saúde, atualmente, os trabalhadores de serviços essenciais estão no quarto grupo de prioridade, após os idosos acima de 60 anos e das pessoas com comorbidades. Entretanto, o prefeito Rafael Greca (DEM) afirmou em janeiro que os trabalhadores do transporte coletiva estão entre os que o município pretende vacinar com prioridade se conseguir comprar doses fora do PNI, seja de forma própria ou pelo consórcio de municípios brasileiros do qual a capital e outas 346 cidades do Paraná passaram a integrar formalmente segunda-feira.

Fonte: Gazeta do Povo

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